Muitas vezes, pensamos no mundo infantil como um paraíso perfeito, um lugar onde as questões existenciais não tem lugar.

Também podemos concluir, equivocadamente, que as crianças vivem alheias às ocorrências ao seu redor. Entretanto, mesmo parecendo não se importar, crianças absorvem todos os problemas de um lar – embora nem sempre expressem essa percepção. E, assim como os adultos, também tem pensamentos ansiosos.

A recomendação de especialistas é interagir com os pequenos de forma aberta. Pergunte sempre aos seus filhos: “O que está acontecendo com você?”, “Você está triste com alguma coisa?”, “Há algo ou alguém te incomodando?”, “Você precisa de mim?”, “Você tem vivido alguma decepção?”, “O que eu posso fazer para torná-lo mais feliz?”.

As questões financeiras não são as mais importantes, mas também é necessário conversar com as crianças sobre crise e gestão para que desde pequena ela aprenda a administrar esse campo que, para muitos na vida adulta, transforma-se num espaço minado, um círculo vicioso de descontrole e compensação pessoal.

O psiquiatra e psicanalista Augusto Cury alerta: “É preciso contagiar seus filhos com seus sonhos e entusiasmo. Cada pensamento negativo deve ser combatido para não ser registrado. O verdadeiro otimismo é construído pelo enfrentamento dos problemas e não por sua negação.”

Para ele, o segredo para quem  deseja ser um pai, mãe ou educador fascinante é “ensinar às crianças a não serem escravas dos seus problemas.” E completa:

“Se tivéssemos a capacidade de entrar no palco da mente das crianças e jovens, constataríamos que muitos são atormentados por pensamentos ansiosos, medos que para os adultos parecem infundados. Alguns se angustiam com as provas escolares, outros com cada curva do corpo que detestam. Outros ainda acham que ninguém gosta deles ou que os pais se separaram por sua causa. Muitos têm uma péssima autoestima – e quando a baixa autoestima nasce, a alegria morre.”


Abaixo, a escritora Carolina Vila Nova relata uma experiência pessoal, refletindo com muita sensibilidade sobre o peso da infância na vida adulta.


“Há tempos sabemos da importância da infância para uma vida adulta feliz e saudável. Recentemente, li algo sobre o assunto que citava o seguinte exemplo: se uma criança, que chora e pede para ser alimentada, é ignorada pela mãe no momento do choro, mas é atendida quando espera em silêncio, esta criança grava em seu subconsciente que quando quer alguma coisa não deve pedir e nem chorar, mas esperar, pois alguém vai perceber sua necessidade apenas em seu silêncio.

Achei o exemplo esplêndido, porque apesar de fazer muito sentido e parecer lógico, é algo muito cruel e sobre o qual eu nunca havia pensado. Esta criança se tornará um adulto que não luta pelo que quer, mas que espera silenciosamente. Percebi o quanto pequenas atitudes podem influenciar o comportamento de um individuo a sua vida inteira, sem que o mesmo nem se dê conta.

Certa vez, tive a seguinte experiência com vizinhos de apartamento: as paredes não eram maciças o bastante para abafar os sons mais altos. Todos os dias, a mãe das crianças parecia um anjo enquanto o marido estava em casa: falava baixinho e parecia a melhor mãe do mundo, além de esposa exemplar.

Porém, assim que o marido saía de casa, a mulher começava a gritar freneticamente com as crianças. Por vezes, trancava-as no banheiro ou no quarto para limpar a casa. O caso era claro: o casamento não ia bem, a mulher estava sempre competindo com a ex-mulher do marido e tentava a todo custo manter a casa na mais perfeita ordem. Quando o homem chegava em casa, a mesma estava impecável e a mulher parecia ser tranquila.

Eu me pergunto: o que aquelas duas crianças vão levar para suas vidas adultas sobre essas experiências com sua mãe? Será que sempre verão no pai o falso herói que era capaz de transformar a mãe nervosa em uma pessoa calma e prestativa? Será que se darão conta algum dia da oscilação terrível de humor a que eram submetidos diariamente, por conta da insegurança da mãe? De que forma esse tipo de experiência afeta a vida das pessoas quando já adultas? Será que todo estudo de psicologia e psicanálise nos permite mesmo olhar para trás e trabalhar o que nos foi feito quando ainda éramos tão vulneráveis e vazios de aprendizado?

Não conheço as respostas para essas questões, mas gosto das dúvidas que elas proporcionam. Conheço uma psicóloga que decidiu pausar sua vida profissional quando se tornou mãe. Ela sabia da importância fundamental dos dias infantis de sua filha, para que a mesma pudesse se tornar uma adulta feliz e segura, sem traumas e com comportamentos oriundos de uma infância mal vivida. Certamente, muitas mães fariam o mesmo se soubessem do grau tão elevado de importância da infância na vida de um ser humano.

Quer um filho saudável, feliz e bem sucedido? Proteja sua infância. Viva seus dias com ele e para ele. Proteja-o de atitudes como a da mãe que maltratava seus filhos toda vez que o marido saía de casa.

Ser criança é ser um indivíduo vazio, pronto para aprender com seus pais, absorvendo tudo, sem possibilidade de filtrar o que é bom e o que é ruim. Se na maioria das vezes, nem mesmo os pais percebem o quão falhos são, quem dirá as crianças?

Não somos responsáveis por nossa infância e nem pelo que fizeram conosco. Sobre isso e para isso, utilizamos os recursos da psicologia. Mas somos, sim, totalmente responsáveis pela infância de nossos filhos.

Que todo amor seja destinado aos nossos. E, quando necessário, vale buscar ajuda profissional, já que o assunto é tão sério, delicado e difícil. Porque o que acontece na infância, não fica na infância. Mas fica… para a vida toda!


Fontes: A Revista da Mulher e Carolina Vila Nova

Por Agência DB