Educar uma criança não é tarefa fácil – exige muita paciência e, nem sempre, os pais sabem exatamente como agir. No entanto, cada vez mais estudos comprovam o que não se deve fazer.

A Academia Americana de Pediatria divulgou recentemente uma nova recomendação sobre castigos e palmadas. O órgão recomenda que os pais busquem o aconselhamento dos médicos sobre a aplicação de disciplinas punitivas

Com base em uma série de estudos científicos, gritar ou envergonhar as crianças são atitudes pouco eficazes – pelo contrário, evidências revelam que a punição corporal tem mais chances de gerar problemas comportamentais, cognitivos, psicossociais e emocionais nas crianças.

O assunto não é novo. Em 1989, a Convenção das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos da Criança orientou todos os Estados membros a proibirem a punição corporal e, inclusive, convidou-os a instituir programas educacionais sobre disciplina positiva.


Mas afinal, o que é punição corporal?

Segundo a ONU, punição corporal ou física inclui “qualquer punição em que a força física emitida é destinada a causar algum grau de dor ou desconforto”. Ou seja, envolve bater com a mão ou com um objeto (chicote, cinto, sapato, colher de pau ou similar), além de chutar, sacudir, atirar, arranhar, beliscar, morder, puxar o cabelo ou orelhas, queimar, forçar a ficar em posições desconfortáveis ou ingerir qualquer elemento, como lavar a boca de uma criança com sabão ou forçá-la a engolir algo quente.

Já entre as formas não-físicas de punição estão menosprezar, humilhar, denigrir, ameaçar, assustar ou ridicularizar a criança.

Na opinião do Comitê dos Direitos das Crianças, a punição corporal “é invariavelmente degradante”.


Como os pediatras podem ajudar?

Em um estudo realizado em 2012, em Nova Orleans, nos Estados Unidos, os pesquisadores descobriram que os pais eram mais propensos a seguir os conselhos dos pediatras em comparação com outros profissionais. Além disso, 48% disseram consultar seus pediatras sobre punição corporal.

Na outra ponta, os profissionais têm mostrado mais interesse em aconselhar os pais sobre o assunto. Entre 2003 e 2012, 51% dos pediatras entrevistados responderam que discutiam disciplina em 75% a 100% das visitas de supervisão de saúde com pais de crianças de 0 a 10 anos.

Diante disso, a Academia Americana de Pediatria tem orientado os pediatras a educar os pais com estratégias parentais positivas e eficazes de disciplina para as crianças.

Segundo o artigo, quando apropriado, o profissional deve aconselhar que a palmada não é uma estratégia apropriada e efetiva. O documento explica ainda que, embora a atitude pareça interromper o mau comportamento, ela é ineficaz a longo prazo. Isto é, em vez de ensinar responsabilidade e autocontrole, a criança se torna cada vez mais agressiva.

Para a AAP, esse conselho será muito útil se for combinado com o ensino de novas estratégias para substituir seu uso, como reforço positivo de comportamentos apropriados, definição de limites, redirecionamento e definição de expectativas futuras.


 

 

Quais são as consequências da punição?

Existem inúmeros estudos que confirmam os efeitos negativos da punição corporal. Entre as consequências, a AAP destaca:

– Aumento da probabilidade de lesão física;

– Comportamentos agressivos e brigas na família;

– Formação de adultos desafiadores e agressivos;

– Risco aumentado de transtornos mentais e problemas de cognição.

Ainda segundo o artigo, o risco de punição severa aumenta quando a família está passando por fatores estressantes, como problemas financeiros, de saúde mental, violência doméstica ou abuso de substâncias.

Assim, o melhor caminho é a conversa. Num tom de voz amigável e sem recriminação, a gente educa e ensina que o respeito mútuo é a base de uma vida mais plena e feliz – seja durante a infância, adolescência ou vida adulta.


Fonte: Revista Crescer